Para determinar a posição de um astro no céu, precisamos definir um sistema de coordenadas. Nesse sistema, vamos utilizar apenas coordenadas angulares, sem nos preocuparmos com as distâncias dos astros. A posição do astro será determinada através de dois ângulos de posição, um medido sobre um plano fundamental, e o outro medido perpendicularmente a ele. Antes de entrarmos nos sistemas de coordenadas astronômicas, convém recordarmos o sistema de coordenadas geográficas, usadas para medir posição sobre a superfície da Terra. Nesse sistema as coordenadas são latitude e a longitude.
- longitude geográfica (ß): é o ângulo medido ao longo do equador da Terra, tendo origem em um meridiano de referência (o meridiano de Greenwich), e extremidade no meridiano do lugar. Na Conferência Internacional Meridiana, realizada em Washington em outubro de 1884, foi definida como variando de 0º a +180° (Oeste de Greenwich) e de 0º a -180° (Leste). Na convenção usada em astronomia, varia entre -12h (Oeste) e +12h (Leste).
- -12h < = ß < = +12h
- latitude geográfica (Ø): ângulo medido ao longo do meridiano do lugar, com origem no equador e extremidade no lugar. Varia entre -90º e +90º . O sinal negativo indica latitudes do hemisfério sul e o sinal positivo hemisfério norte.
- -90º <= Ø <= +90º
- Definição astronômica de latitude: A latitude de um lugar é igual à altura do pólo elevado (hP).
Coordenadas Astronômicas
Foto tirada pela espaçonave Clementina, mostrando a Lua, a coroa do Sol nascendo atrás da Lua, e os planetas Saturno, Marte e Mercúrio. O plano da eclíptica é o plano imaginário contendo a órbita da Terra em volta do Sol. Durante o ano, a posição aparente do Sol está neste plano, assim como todos os planetas estão próximos deste plano, pois foram formados no disco proto-planetário.
- Azimute (A): é o ângulo medido sobre o horizonte, no sentido horário (NLSO), com origem no Norte e extremidade no círculo vertical do astro. O azimute varia entre 0º e 360º.
- 0º <= A < = 360º
- Altura (h): é o ângulo medido sobre o círculo vertical do astro, com origem no horizonte e extremidade no astro. A altura varia entre -90° e +90°. O complemento da altura se chama distância zenital (z). Assim, a distância zenital é o ângulo medido sobre o círculo vertical do astro, com origem no zênite e extremidade no astro. A distância zenital varia entre 0° e 180°:
( h + z = 90° )
-90º <= h <= +90º 0º <= z <= 180º ascensão reta ( a ou AR): ângulo medido sobre o equador, com origem no meridiano que passa pelo ponto Áries, e extremidade no meridiano do astro. A ascensão reta varia entre 0h e 24h (ou entre 0º e 360º) aumentando para leste.
0h <= a <= +24h
O Ponto Áries, também chamado Ponto Gama (y), ou Ponto Vernal, é um ponto do equador, ocupado pelo Sol no equinócio de primavera do hemisfério norte (mais ou menos em 22 de março de cada ano).
declinação(d): ângulo medido sobre o meridiano do astro, com origem no equador e extremidade no astro. A declinação varia entre -90º e +90º. O complemento da declinação se chama distância polar ( p ). ( d + p = 90º )
-90º <= d <= +90º
0º <= p <= 180º- ângulo horário (H): ângulo medido sobre o equador, com origem no meridiano local e extremidade no meridiano do astro. Varia entre -12h e +12h. O sinal negativo indica que o astro está a leste do meridiano, e o sinal positivo indica que ele está a oeste do meridiano.
- Hora sideral (HS): ângulo horário do ponto Áries. Pode ser medida a partir de qualquer estrela, pela relação:
HS = H* + a*
- Dia Sideral: é o intervalo de tempo decorrido entre duas passagens sucessivas do ponto g pelo meridiano do lugar.
- Dia Solar: é o intervalo de tempo decorrido entre duas passagens sucessivas do Sol pelo meridiano do lugar. É 3m56s mais longo do que o dia sideral. Essa diferença é devida ao movimento de translação da Terra em torno do Sol, de aproximadamente 1 grau (4 minutos) por dia (360°/ano). Como a órbita da Terra em torno do Sol é elíptica, a velocidade de translação da Terra em torno do Sol não é constante, causando uma variação diária de 1° 6' (4m27s) em dezembro, e 53' (3m35s) em junho.
- 1. Nos pólos ( Ø = +/- 90 ): Todas as estrelas do mesmo hemisfério do observador permanecem 24 h acima do horizonte (não têm nascer nem ocaso), e descrevem no céu círculos paralelos ao horizonte. As estrelas do hemisfério oposto nunca podem ser vistas.
- 2. No equador ( Ø = 0) : Todas as estrelas nascem e se põem, permanecendo 12h acima do horizonte e 12h abaixo dele. A trajetória das estrelas são arcos perpendiculares ao horizonte. Todas as estrelas do céu (dos dois hemisférios) podem ser vistas ao longo do ano.
- 3. Em um lugar de latitude intermediária: Algumas estrelas têm nascer e ocaso, outras permanecem 24h acima do horizonte, outras permanecem 24h abaixo do horizonte. As estrelas visíveis descrevem no céu arcos com uma certa inclinação em relação ao horizonte, a qual depende da latitude do lugar.
O Sistema Horizontal
Esse sistema utiliza como plano fundamental o Horizonte celeste. As coordenadas horizontais são azimute e altura.
O sistema horizontal é um sistema local, no sentido de que é fixo na Terra. As coordenadas azimute e altura ( ou azimute e distância zenital) dependem do lugar e do instante da observação, e não são características do astro.
O Sistema Equatorial Celeste
Esse sistema utiliza como plano fundamental o Equador celeste. Suas coordenadas são a ascensão reta e a declinação.
O sistema equatorial celeste é fixo na esfera celeste, e portanto suas coordenadas não dependem do lugar e instante de observação. A ascensão reta e a declinação de um astro permanecem praticamente constantes por longos períodos de tempo.
Sistema Equatorial Horário
Nesse sistema o plano fundamental continua sendo o Equador, mas a coordenada medida ao longo do equador não é mais a ascensão reta, e sim uma coordenada não constante chamada ângulo horário. A outra coordenada continua sendo a declinação.
-12h <= H <= +12h
Tempo Sideral
O sistema equatorial celeste e o sistema equatorial local, juntos, definem o conceito de tempo sideral. O tempo sideral, assim como o tempo solar, é uma medida do tempo, e aumenta ao longo do dia.
Movimento Diurno dos Astros
O movimento diurno dos astros, de leste para oeste, é um reflexo do movimento de rotação da Terra, de oeste para leste. Ao longo do dia, todos os astros descrevem no céu arcos paralelos ao Equador. A orientação desses arcos em relação ao horizonte depende da latitude do lugar.
Passagem Meridiana de um Astro
Chama-se passagem meridiana ao instante em que o astro cruza o meridiano local. Durante o seu movimento diurno, o astro realiza duas passagens meridianas, ou duas culminações: a culminação superior, ou passagem meridiana superior, ou ainda máxima altura (porque nesse instante a altura do astro atinge o maior valor), e a passagem meridiana inferior, ou culminação inferior. No instante da passagem meridiana superior, cumpre-se a seguinte relação entre z, d, e Ø:
z = +/- ( d - Ø )
onde o sinal mais vale se a culminação é feita ao norte do zênite e o sinal menos se a culminação é feita ao sul do zênite.
Estrelas Circumpolares
Estrelas circumpolares são aquelas que não têm nascer nem ocaso, descrevendo seu círculo diurno completo acima do horizonte. Portanto, as estrelas circumpolares fazem as duas passagens meridianas acima do horizonte. Para uma certa estrela com declinação d ser circumpolar em um lugar de latitude Ø deve se cumprir a relação:
d => 90 - Ø ( d e Ø em módulo )
com d e Ø de mesmo sinal.
Para se derivar as relações entre os sistemas de coordenadas, é necessário utilizar-se a trigonometria esférica.